quarta-feira, 16 de março de 2011

cultura

O Nordeste em papel machê




Sustentabilidade, reciclagem: palavras da moda, usadas ao ponto da quase banalização, podem obter novos sentidos nas mãos certas e extrapolarem suas funções originais. Para a artista plástica mossoroense Ana Selma Galvão, lixo também vira arte para ser vista e admirada. O resultado de um longo projeto educativo empreendido por ela está à mostra na exposição “Origens Nordeste Brasil”, que ficará aberta na galeria da Capitania das Artes até  15 de abril. O trabalho também será exposto no dia 09 de maio em Portugal, na cidade do Porto. 

divulgaçãocom a Exposição  Origens Nordeste Brasil, a artista Ana Selma cria máscaras, bonecos e arupembas coloridas que retratam o Nordeste e valoriza a arte sustentávelcom a Exposição Origens Nordeste Brasil, a artista Ana Selma cria máscaras, bonecos e arupembas coloridas que retratam o Nordeste e valoriza a arte sustentável
Através do papel maché e da papietagem - duas técnicas que reciclam papel comum -, Ana Selma desenvolve formas visualmente bonitas e criativas, ao mesmo tempo que trabalha seu conceito de reciclagem. Um trabalho artístico e ecologicamente correto.  

“Meu processo de formação e ideias foi se criando aos poucos, e essa exposição é o ápice disso, a maior que já criei”, disse a artista, enquanto concluia a arrumação da exposição, ontem pela manhã na Funcarte. 

O embrião de “Origens Nordeste do Brasil” está no projeto Ana Selma Arte Ecológica nas Escolas, desenvolvido ano passado junto ao meio estudantil, com a função de promover a sustentabilidade ambiental com o reaproveitamento do papel usado.  Com os apoios providenciais, e sempre difíceis, ela conseguiu reunir esse trabalho na forma de exposição. 

 A atual exposição inseriu outro ingrediente ao conteúdo artístico/ecológico: a cultura nordestina. Foi o tema que Ana Selma estudou para conceber seu material.  O resultado está na forma de esculturas, máscaras e ‘arupembas’ (um tipo de peneira indígena). São peças coloridas, de aspecto alegre, rechonchudas, e que remetem à arte ingênua, grande referência entre artistas nordestinos. Estão representados ícones regionais como Lampião e Maria Bonita, Bumba-meu-Boi, Boi de Reis, a mulata, os índios, a baiana, o pescador e o capoeirista.  As máscaras reproduzem quase os mesmos temas, incluindo outros como os mamulengos e o Homem-da-Meia-Noite. 

“Origens Nordeste Brasil” também convida o visitante a participar da obra, através de três elementos de interação. Em um painel há um mosaico onde a pessoa pode preencher os espaços com pinturas, pegando pincéis e tintas disponíveis no local; do outro lado do mesmo painel está a frase “A cultura do Nordeste...”, que o visitante deve completar com suas palavras. Em outro painel há máscaras de pessoas e animais, em branco, que o visitante também pode pintar à vontade. Há ainda uma instalação criada pela arquiteta Vera Lúcia Bezerra, um corredor de tecidos para desenvolver o tato. Mais: estão programadas quatro oficinas ao longo da exposição, cujas inscrições serão feitas no dia, para turmas de até 20 pessoas. O acesso é gratuito. 

A exposição também atravessará o oceano. De 09 a 23 de maio “Origens” será mostrada em uma escola do Porto, em Portugal. 

“Ficaram sabendo do meu trabalho junto às escolas e me convidaram. Acredito que o fato de eu também abordar ícones nordestinos do Brasil vai enriquecer ainda mais este intercâmbio”, analisa.

A preocupação ecológica sempre esteve presente no trabalho artístico de Ana Selma. Começou trabalhando com telas, esculturas, máscaras, vasos e gamelas, até decidir que não trabalharia mais com madeira, para não agredir a natureza. Trocou a matéria-prima:  papel velho. Ao melhor estilo autodidata, pesquisou e aprendeu na internet as técnicas de papel mâché e papietagem, e até desenvolveu uma própria. “Aprendi a fazer colagens com grude, a cola de goma de tapioca, que me possibilitou fazer as arupemas, por exemplo”, diz.  Disposta a criar tanto quanto a ensinar, a artista renova e transforma seu trabalho a cada exposição. Reciclagens que resultam em arte. 

Serviço:

“Origens Nordeste Brasil”. Até 15 de abril, na Capitania das Artes, Ribeira. Visitações de segunda a sexta, 9 às 17h. 
fonte: tribuna do norte

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