Situação se agrava com incêndio em usina nuclear
Tóquio (AE) - A crise na Usina Nuclear de Fukushima-Daiichi, no Nordeste do Japão, se agravou ontem diante das incertezas com relação ao reator número 2, onde poderá ocorrer um derretimento do núcleo, e também no reator número 4, foco da luta do governo e da empresa Tokyo Electric Power (Tepco) para tentar resfriar uma piscina com combustível nuclear. O governo japonês emitiu uma ordem para que as 140 mil pessoas que vivem em uma área de 30 quilômetros ao redor da usina não saiam de casa. Outros 70 mil moradores que viviam em uma área de até 20 quilômetros da usina já foram retirados pelas autoridades.
A ideia de usar um helicóptero para resfriar o combustível nuclear usado que está no reator 4 foi descartada. A Tepco, empresa operadora da usina, descobriu que os buracos abertos por um incêndio nas paredes externas de concreto não ficam próximas à piscina de armazenagem de combustível nuclear, o que torna muito difícil injetar água de um helicóptero, reportou a NHK. A opção seria abrir um buraco no teto para que um helicóptero jogue água.
Em Viena, o diretor-geral da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), Yukiya Amano, disse que a crise se agravou em Fukushima, uma vez que o núcleo do reator 2 parece ter sido danificado. “As notícias que nós recebemos nas últimas 24 horas são preocupantes”, disse Amano. “O que eu posso dizer é que esse é um acidente sério”, afirmou o diretor-geral da AIEA. Ele se recusou a comparar o acidente em Fukushima-Daiichi com o desastre nuclear de 1986 em Chernobyl, na Ucrânia. Na segunda-feira, Amano disse ser “bastante improvável” que a crise em Fukushima evolua para uma igual a Chernobyl.
Amano disse que a Câmara de supressão no reator 2 da usina, que tem como missão conter combustível nuclear derretido no caso de um derretimento do núcleo, pode ter sido danificada pela explosão que ocorreu no reator 2 na manhã de terça-feira (noite da segunda-feira, pelo horário do Brasil). O núcleo pode ter sido danificado, mas o dano não incluiria mais de 5% do combustível nesse reator, disse Amano.
A Usina de Fukushima, uma das 25 maiores plantas nucelares do mundo, foi atingida por uma série de explosões desde o sábado passado, após seu sistema automático de resfriamento ter sido desligado, em seguida ao devastador terremoto e ao tsunami que atingiram o nordeste do Japão na semana passada. Amano instou também o Japão a agilizar o envio de informações à AIEA, para que a entidade acompanhe a situação mais de perto. “Eu gostaria de receber as informações de maneira mais rápida e detalhada dos nossos congêneres japoneses”.
Os níveis de radiação no centro de Tóquio ainda permaneciam abaixo de níveis que poderiam prejudicar a saúde humana, além de terem caído bastante mais tarde, disseram as autoridades. Cerca de 39 milhões de pessoas vivem na área metropolitana de Tóquio. O primeiro-ministro Naoto Kan pediu calma à população.
O nível de radiação às portas da usina chegou a mais de 11,0 microsieverts por hora na manhã da segunda-feira, o equivalente de radiação ao qual uma pessoa é exposta em 11 anos. O nível caiu para 600, quase o equivalente a um raio X, no meio da tarde de ontem.
Número oficial de mortos do tsunami já supera os 3,3 mil
Tóquio (AE) - As autoridades japonesas confirmaram ontem 3.373 mortos pelo terremoto e o tsunami que atingiram o nordeste do país na semana passada, mas funcionários afirmam que o número de mortos na tragédia que se abateu sobre o Japão deverá ultrapassar 10 mil, em apenas um das quatro regiões mais atingidas. O total de desaparecidos é de 6.746, informou a agência nacional de polícia em seu último balanço. O número de feridos se manteve em 1.897.
Entre as poucas boas notícias de ontem, as equipes de resgate encontraram dois sobreviventes do tsunami, um deles uma mulher de 70 anos cuja casa foi arrancada das fundações pela onda gigante. As equipes de resgate conseguiram retirar a idosa Sai Abe, de 70 anos, dos destroços da sua casa na cidade portuária de Otsushi. A idosa parecia sofrer de hipotermia e foi enviada a um hospital em Osaka, mas aparentemente não tinha ferimentos mortais e estava em bom estado. O filho de Abe, Hiromi, ficou contente com resgate da mãe, mas lamentou que seu pai continue desaparecido. “Meus sentimentos são complicados, porque não consegui encontrar meu pai”, disse ele a uma emissora nacional de televisão. Ele afirmou que não conseguiu retirar os idosos da casa, quando a cidade foi atingida pelo tsunami.
A outra vítima resgatada ontem foi um bebê de quatro meses foi encontrado com vida no meio da lama, em Ishinomaki, no nordeste do Japão. No mesmo vilarejo houve outro resgate, de um homem que ficou preso nos destroços durante cinco dias. O bebê estava com os pais quando o tsunami atingiu a cidade. A mãe está desaparecida. O bebê foi entregue por bombeiros ao pai.
Saiba mais
O acidente ocorrido na usina de Fukushima foi classificado como de nível 6, em um escala internacional para acidentes nucleares que vai até 7, disse ontem Andre-Claude Lacoste, chefe da Autoridade de Segurança Nuclear da França. Como fizera na segunda-feira, Lacoste voltou a repetir sua análise de que este acidente é mais sério que o ocorrido em 1979 em Three Mile Island, na Pensilvânia - classificado como de escala 5 -, e menos grave que o desastre nuclear de Chernobyl, na Ucrânia - considerado o pior da história e apontado como de nível 7. “Claramente, nós estamos no nível 6 em Fukushima”, disse Lacoste. “O incidente tomou uma dimensão completamente diferente comparado com ontem”, afirmou.
Dia de juízo final na vida de brasileira
A paulistana Flávia Takamatsu é uma das brasileiras que sentiu na pele o drama vivido pelos japoneses na última sexta-feira (11), quando um terremoto de 8,9 graus na escala Ritcher devastou o país e provocou um tsunami responsável pela morte de milhares de pessoas. Morando na cidade Hirosaki (região norte do Japão) com o marido e o filho desde 2001, ela relembrou os momentos vividos durante os tremores e relatou os atuais problemas enfrentados pela população do país, que sofre com a falta de transporte, energia e até alimento. Confira o relato da brasileira à TRIBUNA DO NORTE:
“Quando os abalos aconteceram, estávamos na cama assistindo a um DVD, antes do lanche da tarde. Neste momento, meu filho (de 5 anos de idade) me puxou para o meio da cama, para ficarmos longe das vidraças e me mandou ficar em posição fetal, protegendo a cabeça. Se estivéssemos na sala, iríamos pra debaixo da mesa, levando em conta que não tem nada pesado em volta.”
“Atualmente não há acessos por nenhum meio para a região norte do Japão (também estamos próximos a Sendai, região de Miyagi que sofreu horrores e teve muitas baixas, e também de Iwate, outro lugar que foi muito castigado). Nada de avião (só os emergenciais), sem conexão por trem, estradas fechadas ou bloqueadas. Assim, está começando a faltar tudo por aqui e a sorte que tivemos foi que meu marido abasteceu a nossa casa com congelados (legumes, vegetais, carnes prontas). A reserva está servindo para esse momento tenebroso.”
Solidariedade
“Incrível como o povo japonês é solidário e procura não se desesperar para não alastrar pânico. Assim que sentimos os dois tremores fortíssimos, fui à loja de conveniência que fica em frente de casa comprar bateria sobressalente para o meu celular (já que a luz tinha sido cortada) e o lanche do filhote. Mesmo a loja sem luz nenhuma, todos estavam calmos, vendendo como sempre, todos em fila, comprando somente o necessário, nada de comprar a mais, todos pensando no próximo e dividindo. Sem pânico, apesar de todos estarem mentalmente abalados.”
“Continuamos sentindo os efeitos rebote dos tremores, com muitas réplicas (mas com menor intensidade), monitoramento constante do mar, temperatura, etc. Energia elétrica no Japão vem em grande parte de usinas atômicas, então as explosões que têm ocorrido em Fukushima afetam a todos, de alguma forma. Por causa dos boatos, estou vendo somente a TV Nacional (NHK) e os pronunciamentos das autoridades japonesas.”
toru nakata/ap/aeEquipes médicas realizam processo de descontaminação em moradores da Nihonmatsu
Um incêndio também recomeçou no reator 4, às 5h45 da manhã de quarta, informou a emissora de televisão NHK, citada pela agência Kyodo.A ideia de usar um helicóptero para resfriar o combustível nuclear usado que está no reator 4 foi descartada. A Tepco, empresa operadora da usina, descobriu que os buracos abertos por um incêndio nas paredes externas de concreto não ficam próximas à piscina de armazenagem de combustível nuclear, o que torna muito difícil injetar água de um helicóptero, reportou a NHK. A opção seria abrir um buraco no teto para que um helicóptero jogue água.
Em Viena, o diretor-geral da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), Yukiya Amano, disse que a crise se agravou em Fukushima, uma vez que o núcleo do reator 2 parece ter sido danificado. “As notícias que nós recebemos nas últimas 24 horas são preocupantes”, disse Amano. “O que eu posso dizer é que esse é um acidente sério”, afirmou o diretor-geral da AIEA. Ele se recusou a comparar o acidente em Fukushima-Daiichi com o desastre nuclear de 1986 em Chernobyl, na Ucrânia. Na segunda-feira, Amano disse ser “bastante improvável” que a crise em Fukushima evolua para uma igual a Chernobyl.
Amano disse que a Câmara de supressão no reator 2 da usina, que tem como missão conter combustível nuclear derretido no caso de um derretimento do núcleo, pode ter sido danificada pela explosão que ocorreu no reator 2 na manhã de terça-feira (noite da segunda-feira, pelo horário do Brasil). O núcleo pode ter sido danificado, mas o dano não incluiria mais de 5% do combustível nesse reator, disse Amano.
A Usina de Fukushima, uma das 25 maiores plantas nucelares do mundo, foi atingida por uma série de explosões desde o sábado passado, após seu sistema automático de resfriamento ter sido desligado, em seguida ao devastador terremoto e ao tsunami que atingiram o nordeste do Japão na semana passada. Amano instou também o Japão a agilizar o envio de informações à AIEA, para que a entidade acompanhe a situação mais de perto. “Eu gostaria de receber as informações de maneira mais rápida e detalhada dos nossos congêneres japoneses”.
Os níveis de radiação no centro de Tóquio ainda permaneciam abaixo de níveis que poderiam prejudicar a saúde humana, além de terem caído bastante mais tarde, disseram as autoridades. Cerca de 39 milhões de pessoas vivem na área metropolitana de Tóquio. O primeiro-ministro Naoto Kan pediu calma à população.
O nível de radiação às portas da usina chegou a mais de 11,0 microsieverts por hora na manhã da segunda-feira, o equivalente de radiação ao qual uma pessoa é exposta em 11 anos. O nível caiu para 600, quase o equivalente a um raio X, no meio da tarde de ontem.
Número oficial de mortos do tsunami já supera os 3,3 mil
Tóquio (AE) - As autoridades japonesas confirmaram ontem 3.373 mortos pelo terremoto e o tsunami que atingiram o nordeste do país na semana passada, mas funcionários afirmam que o número de mortos na tragédia que se abateu sobre o Japão deverá ultrapassar 10 mil, em apenas um das quatro regiões mais atingidas. O total de desaparecidos é de 6.746, informou a agência nacional de polícia em seu último balanço. O número de feridos se manteve em 1.897.
Entre as poucas boas notícias de ontem, as equipes de resgate encontraram dois sobreviventes do tsunami, um deles uma mulher de 70 anos cuja casa foi arrancada das fundações pela onda gigante. As equipes de resgate conseguiram retirar a idosa Sai Abe, de 70 anos, dos destroços da sua casa na cidade portuária de Otsushi. A idosa parecia sofrer de hipotermia e foi enviada a um hospital em Osaka, mas aparentemente não tinha ferimentos mortais e estava em bom estado. O filho de Abe, Hiromi, ficou contente com resgate da mãe, mas lamentou que seu pai continue desaparecido. “Meus sentimentos são complicados, porque não consegui encontrar meu pai”, disse ele a uma emissora nacional de televisão. Ele afirmou que não conseguiu retirar os idosos da casa, quando a cidade foi atingida pelo tsunami.
A outra vítima resgatada ontem foi um bebê de quatro meses foi encontrado com vida no meio da lama, em Ishinomaki, no nordeste do Japão. No mesmo vilarejo houve outro resgate, de um homem que ficou preso nos destroços durante cinco dias. O bebê estava com os pais quando o tsunami atingiu a cidade. A mãe está desaparecida. O bebê foi entregue por bombeiros ao pai.
Saiba mais
O acidente ocorrido na usina de Fukushima foi classificado como de nível 6, em um escala internacional para acidentes nucleares que vai até 7, disse ontem Andre-Claude Lacoste, chefe da Autoridade de Segurança Nuclear da França. Como fizera na segunda-feira, Lacoste voltou a repetir sua análise de que este acidente é mais sério que o ocorrido em 1979 em Three Mile Island, na Pensilvânia - classificado como de escala 5 -, e menos grave que o desastre nuclear de Chernobyl, na Ucrânia - considerado o pior da história e apontado como de nível 7. “Claramente, nós estamos no nível 6 em Fukushima”, disse Lacoste. “O incidente tomou uma dimensão completamente diferente comparado com ontem”, afirmou.
Dia de juízo final na vida de brasileira
A paulistana Flávia Takamatsu é uma das brasileiras que sentiu na pele o drama vivido pelos japoneses na última sexta-feira (11), quando um terremoto de 8,9 graus na escala Ritcher devastou o país e provocou um tsunami responsável pela morte de milhares de pessoas. Morando na cidade Hirosaki (região norte do Japão) com o marido e o filho desde 2001, ela relembrou os momentos vividos durante os tremores e relatou os atuais problemas enfrentados pela população do país, que sofre com a falta de transporte, energia e até alimento. Confira o relato da brasileira à TRIBUNA DO NORTE:
“Quando os abalos aconteceram, estávamos na cama assistindo a um DVD, antes do lanche da tarde. Neste momento, meu filho (de 5 anos de idade) me puxou para o meio da cama, para ficarmos longe das vidraças e me mandou ficar em posição fetal, protegendo a cabeça. Se estivéssemos na sala, iríamos pra debaixo da mesa, levando em conta que não tem nada pesado em volta.”
“Atualmente não há acessos por nenhum meio para a região norte do Japão (também estamos próximos a Sendai, região de Miyagi que sofreu horrores e teve muitas baixas, e também de Iwate, outro lugar que foi muito castigado). Nada de avião (só os emergenciais), sem conexão por trem, estradas fechadas ou bloqueadas. Assim, está começando a faltar tudo por aqui e a sorte que tivemos foi que meu marido abasteceu a nossa casa com congelados (legumes, vegetais, carnes prontas). A reserva está servindo para esse momento tenebroso.”
Solidariedade
“Incrível como o povo japonês é solidário e procura não se desesperar para não alastrar pânico. Assim que sentimos os dois tremores fortíssimos, fui à loja de conveniência que fica em frente de casa comprar bateria sobressalente para o meu celular (já que a luz tinha sido cortada) e o lanche do filhote. Mesmo a loja sem luz nenhuma, todos estavam calmos, vendendo como sempre, todos em fila, comprando somente o necessário, nada de comprar a mais, todos pensando no próximo e dividindo. Sem pânico, apesar de todos estarem mentalmente abalados.”
“Continuamos sentindo os efeitos rebote dos tremores, com muitas réplicas (mas com menor intensidade), monitoramento constante do mar, temperatura, etc. Energia elétrica no Japão vem em grande parte de usinas atômicas, então as explosões que têm ocorrido em Fukushima afetam a todos, de alguma forma. Por causa dos boatos, estou vendo somente a TV Nacional (NHK) e os pronunciamentos das autoridades japonesas.”
fonte: tribuna do norte
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